
Bom dia Droppers.
Pensei no chuveiro: que no fim do dia, debênture e nota comercial contam a mesma história, mas a velocidade com que são emitidas diz muito sobre o capítulo atual da empresa.
No Drop de hoje, em 5 min e direto ao ponto:
• Visual: a volta (parcial) da Salesforce
• Notas Comerciais: o Fast Pass do mercado financeiro
• Moore Threads: o IPO mais hypado da história
• Mini-IPO: Big dor de cabeça

GIRO PELO MERCADO

Por aqui, o mercado cantou animado em mandarim, vendo a Bolsa fazer a festa junto depois de a China dizer que vai tentar manter o ritmo de crescimento em 5% no ano que vem – e combater a deflação. Essa notícia do outro lado do mundo (literalmente) deu um empurrão nas ações de metais e a Vale subiu 3,23%, ajudando o Ibovespa a renovar seu recorde mais uma vez.
Lá fora, os índices saíram da cama com o pé esquerdo e ainda deram aquela topada na quina da cama, mas o humor foi melhorando ao longo do dia. Com dados do mercado do trabalho mais fracos, as expectativas para o corte de juros do Fed na semana que vem ficam ainda maiores. Mesmo com o S&P apenas -0,9% abaixo da máxima histórica, o índice de Medo e Ganância acabou de passar do Medo Extremo para apenas Medo.
VISUAL
A volta (parcial) da Salesforce

As luzes no cinema do Q3 já estavam acesas quando a Salesforce chegou com a cena pós-créditos – e conseguiu o feito de não estragar o final do filme. A empresa teve lucro de US$ 2,09 bilhões (saltando 36% no ano) e ainda mostrou o trailer guidance mais animado do que o mercado previa.
Os números do trimestre:
🟡 Receita: US$ 10,26 bilhões, em linha com o consenso.
🟢 Lucro por ação (ajustado): US$ 3,25 x US$ 2,86 esperados.
🟢 Guidance 2026: US$ 41,45-41,55 bilhões em receita, com crescimento chegando a 12%.
A receita subiu 8,6% no trimestre, enquanto o lucro ganhou força com US$ 263 milhões de investimentos estratégicos. Tudo bem, tudo show? Por enquanto sim, mas o mercado gosta mesmo é de prever o futuro. E o medo de que a IA deixe a Salesforce sem Sales e sem Force já derrubou as ações da empresa em 29% nesse ano.
Mas ela não está parada. Nos últimos meses ela:
→ Comprou a Regrello: startup de IA focada em agentes para logística;
→ Comprou a Waii: uma IA que escreve queries como se estivesse mandando um WhatsApp e facilita a geração de reports;
→ Lançou o Agentforce: o funcionário digital que não dorme, não pede aumento e ainda tende a fazer a receita crescer.
E claro, o CEO Marc Benioff nunca perde a chance de animar a turma. Ele diz que a dupla Agentforce + Data 360 já somam quase US$ 1,4 bilhão em receita recorrente anual, empurrando a empresa morro acima.
No after hours, as ações chegaram a subir mais de 8%. Depois perderam fôlego e fecharam em alta de 4,8%, lembrando ao mercado que, sim, a Salesforce ainda entrega números sólidos – só não dá pra esperar que acerte todos os decimais da planilha.
Recomendação dos analistas:
Compra forte: 8 | Compra: 33 | Neutro: 13 | Venda: 1
Preço-alvo médio: US$ 327,81 | Preço atual: US$ 238,72
MACRO/AÇÕES
India: PIB cresce 8,2% na base anual.
Argentina: se prepara para retornar ao mercado internacional de títulos.
Michael Burry: escreveu que a Tesla é “ridiculamente sobrevalorizada”.
Golpe: Polícia Civil do RN prendeu uma mulher que oferecia investimentos em cripto com retornos mensais de 10% a 20% – leitor do MoneyDrop não cai nessa, indique a news pros seus amigos.
Pix Parcelado: entrave entre BC e bancos atrasa a operacionalização.
Intel: chegou a subir 7% após notícias que a empresa vai fornecer chips para a Apple.
IRB: CVM aceita acordo com os integrantes do Conselho de Administração.
Prada: depois de longas negociações, a Versace passa a fazer parte do grupo.
Mills: block trade da Southern Cross Group vendeu 15 milhões de ações.
BTG: Citi eleva as projeções de lucro e aumenta o preço-alvo para R$ 65.
SmartFit: aumenta a presença no Centro-Oeste, ao comprar 60% da Evolve.
Klabin: troca de CFO, com a Gabriela Woge assumindo.
FINANÇAS
Notas Comerciais: o Fast Pass do mercado financeiro

O mercado financeiro tem uma queda por “armas secretas”. E a queridinha da vez atende por um nome nada glamouroso, mas altamente eficiente: notas comerciais. Pense nelas como as primas descoladas das debêntures: com menos burocracia e mais flexibilidade. Não é à toa que as emissões já beiram os R$ 40 bilhões em 2025.
O hype do momento veio por causa de Rubens Ometto, que virou o garoto-propaganda involuntário. Após fechar um aumento de capital de R$ 10 bilhões na Cosan com BTG e Perfin, surgiu o dilema: como aportar sua parte sem perder tempo nem encarar diluição?
A solução foi simples: notas comerciais. Em outubro, sua holding Aguassanta pediu à CVM autorização para uma oferta de R$ 750 milhões — rápida, direta e discreta.
As notas comerciais estão virando o “Fast Pass” do financiamento corporativo: rápidas de emitir, acessíveis e com um manual de instruções menos intimidador que o das debêntures. Empresas abertas também já embarcaram no combo, aproveitando a velocidade para reforçar caixa, rolar dívidas ou fechar novos projetos no pique.
Notas comerciais: qualquer empresa S.A, Ltda ou cooperativas podem emitir, desde que sigam as regras do BC. Isso vai de empresas grandes até negócios de médio porte. São rápidas e descomplicadas, geralmente com prazos mais curtos
Debêntures: aqui o clube é mais exclusivo, pois somente S.A. pode emitir. Ltdas ficam de fora porque o formato exige um nível de governança típico de companhias estruturadas. São mais demoradas, mais formais e, em geral, de prazo mais longo.
Outro destaque é que as notas comerciais não têm IOF, e no middle market cada centavo de custo pesa. Os números da Anbima não mentem, e só em 2024:
Operações: 207 operações (+45,7% em relação a 2023)
Captação: de R$ 43,5 bilhões (+56%).
Em 2025, já foram R$ 39,3 bilhões levantados entre janeiro-setembro, com alta de +13,5% sobre o mesmo período de 2024.
As pequenas e médias usam porque é rápido, barato e sem labirinto burocrático; as grandes tratam como um “cartão de crédito” para resolver pepinos ou aproveitar oportunidades sem perder timing. Foi o caso da Pague Menos, que levantou R$ 480 milhões para amortizar debêntures, e da Lavvi, com R$ 400 milhões para dar lastro a CRIs.
CHINA
Moore Threads: o IPO mais hypado da história

A estratégia do governo americano de proibir a Nvidia de vender chips para a China na esperança de frear o os avanços do país em IA pode não ter exatamente o efeito esperado. Ao contrário disso, a startup Moore Threads criada por um ex-Nvidia acaba de estrear o IPO mais oversubscribed da história! Com +US$ 4,5 trilhões em pedidos!
Para colocar em perspectiva: isso é praticamente o valor de mercado da Nvidia, que foi a primeira empresa a bater a marca de US$ 5 trilhões, mas com as quedas recentes vale apenas US$ 4,57 trilhões. A ambição era levantar cerca de 8 bilhões de yuans (US$ 1,1 bilhão), mas o varejo chinês entrou numa febre IPO insana:
Demanda: superou em mais de 4.100x a quantidade de ações disponíveis.
Ações: foram precificadas a US$ 7,5 bilhões.
Rateio: com mais de US$ 4,5 trilhões em lances, a taxa de alocação ficou em 0,036% – ou seja, todo mundo ficou com quase nada.
Mas quem é a Moore Threads?
→ 2020: o ex-chefe da Nvidia na China James Zhang Jianzhong (sim, nós ouvimos você tentar pronunciar isso) decide criar uma alternativa doméstica aos chips ocidentais.
→ 2021: a tese convence investidores, que se juntam ao governo e apostam na empresa para os primeiros aportes.
→ 2022: os primeiros produtos são lançados, mas com desempenho abaixo do esperado.
→ 2023: as primeiras sanções dos EUA começam a pressionar os resultados da Moore Threads, que apela até para um layoff.
→ 2025: mesmo ainda sem um desempenho equiparado ao da Nvidia, a promessa para o futuro ajudou no hype pelo IPO.
A empresa ainda se encontra na fase “investimento pesado, lucro fica pra depois”. Só no primeiro semestre de 2025, a empresa registrou 271 milhões de yuans (US$ 38 mi) de prejuízo para 701,8 milhões de yuans de receita (US$ 99 mi). Cresce, mas queima caixa como toda tech adolescente cheia de sonhos.
Em mercados com narrativa forte, os números às vezes só são mero coadjuvantes. A data oficial de estreia ainda não foi definida. Mas, pelo apetite trilionário, quando essas ações começarem a negociar… prepara a pipoca.
PS: A aprovação do IPO pela bolsa de Shangai demorou apenas 88 dias, sendo uma das mais rápidas já concedidas por lá.
BOLSAS
Mini-IPO, big dor de cabeça

A Nasdaq sempre foi conhecida como a “fábrica de IPOs” dos EUA, mas também também virou a fábrica de mini-IPOs – ofertas abaixo de US$ 15 milhões – com 233 desde 2023 (contra 33 da NYSE). Como quantidade ≠ qualidade, muitas dessas microestreantes abriram as asas bem abertas, mas mas deram voos de galinha.
Não por acaso, a SEC começou a puxar o freio de mão. Em apenas 18 meses, 11 desses mini-IPOs da Nasdaq tiveram o pregão pausado por suspeita de manipulação, o clássico pump and dump.
Pump and dump é um clássico golpe no mercado. Funciona assim: alguém escolhe uma ação, geralmente com pouca liquidez e espalha rumores, promessas e projeções milagrosas até fazer o preço disparar – esse é o pump.
Quando a multidão empolgada entra comprando, os criadores da farra vendem tudo lá em cima e saem de fininho, desabando o preço e fazendo com que quem entrou no hype tenha um baita prejuízo.
Grande parte dessas listagens vem de China, Hong Kong e Singapura e o roteiro é sempre o mesmo: hype estrondoso nas redes, volatilidade de montanha-russa e quedas de até 60% em um único dia. A coisa escalou tanto que a SEC teve de criar uma taskforce só para caçar fraudes que nascem (ou se escondem) do outro lado do mundo.
Pressionada, a Nasdaq tentou fechar a porteira e subiu o tamanho mínimo dos IPOs de US$ 5 milhões para US$ 15 milhões. Parecia ótimo… até vir a exceção. Empresas “lucrativas” poderiam listar com menos. E assim vimos uma corrida de pequenas empresas tentando provar lucro com números “pouco reais”. Contabilidade criativa que se chama né?!
A própria Nasdaq admite, sem muita maquiagem, que muitas dessas mini-ofertas não têm a liquidez necessária para um pregão saudável, e mesmo assim continua listando várias delas enquanto espera a SEC aprovar suas novas regras. O reflexo aparece nos números: mesmo com um mercado forte, apenas um terço dos mini-IPOs recentes está acima do preço de estreia.
STATS DO DIA
US$ 200 milhões
é o quanto a Delta Air Lines disse que vão custar os 43 dias de shutdown americano, depois que mais de 2.000 voos foram cancelados por causa da redução de força de trabalho na Força Aérea dos EUA.
Via Sherwood

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