
Bom dia Droppers.
Pensei no chuveiro: que cair mais que o bitcoin sendo uma empresa de bitcoin é tipo o airbag te machucar mais que o acidente.
No Drop de hoje, em 5 min e direto ao ponto:
• Déficit Express: a dura vida dos Correios
• Black Friday Tributária: a fuga dos dólares
• Selic: incomodando até os bancos
• Oranje BTC: caindo junto com a moeda

GIRO PELO MERCADO

Por aqui, novembro encerrou o expediente em grande estilo: foi o melhor mês do ano, com o Ibovespa avançando 6,4%. Ontem, as falas de Galípolo colocaram um pouco mais de pimenta na discussão sobre juros, reforçando um tom mais durão na política monetária. E agora que dezembro oficialmente chegou, começa a temporada mais tradicional de fim de ano: não é a das festas, é a das previsões. Quanto o Ibovespa vai bater em 2026? A quanto o dólar vai fechar o ano?
Lá fora, entre tropeços e levantadas, novembro também acabou no azul para o S&P e o Dow Jones que, inclusive, emendou sua sétima alta mensal consecutiva, algo que não rolava desde 2018. E se dezembro fosse uma pessoa, seria aquele tio que sempre leva presente: historicamente, o S&P sobe, em média, 1,3% no mês, com 72% dos dezembros fechando no campo positivo. Tradicionalmente é rally, pisca-pisca e alegria… mas neste ano, só tem festa se o FED realmente entregar o tão esperado corte de juros, que 85% do mercado já dá como certo.
VISUAL
Déficit Express: a dura vida dos Correios

Os Correios não entregam só encomendas – estão entregando cada vez mais prejuízo. Entre janeiro e setembro desse ano a estatal já acumulou R$ 6,05 bilhões em perdas, quase 3x o rombo do ano passado, que foi de R$ 2,2 bilhões.
Esse é o 12º trimestre seguido no vermelho. Desde o 4° trimestre de 2022 que as contas não fecham…
→ No primeiro semestre o buraco foi de R$ 4,4 bilhões
→ O terceiro trimestre colocou mais R$ 1,7 bilhão negativo
→ A receita, que deveria ajudar a segurar a barra, encolheu 12,7% e ficou em R$ 12,35 bilhões
As despesas só aumentam (com uma escalada de 53%) e a grande adversária é a Justiça: gastos com precatórios explodiram de R$ 483 milhões em 2024 para R$ 2,1 bilhões em 2025 – só no 3º trimestre foram R$ 524 milhões em ações judiciais e trabalhistas.
Quem paga a conta é o governo. A equipe econômica revisou para cima a projeção de déficit dos Correios para 2025 e já fala em R$ 5,8 bilhões, mais que o dobro do previsto. Isso piora também o resultado das estatais, que devem fechar o ano com um saldo negativo de R$ 9,2 bilhões, acima da meta.
Plano de Reestruturação
Entre as saídas estudadas, está um empréstimo de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos. Mas não é só pedir mais limite com o cartão estourado: o pacote deve incluir PDV, mudanças no plano de saúde, fechamento de agências, venda de imóveis e até revisão do modelo de negócios. Privatização? Haddad diz que isso nem está em debate.
Com receitas minguando, despesas trabalhistas explodindo e dificuldade crescente para competir num setor de logística dominado por players mais ágeis, os Correios viraram um dos pesos mais pesados na mochila fiscal do governo Lula. No fim das contas, a estatal, hoje entrega mais dor de cabeça do que encomendas.
MACRO/AÇÕES
Taxa de fertilidade: na China cai para 1, o que significa que a cada geração a sociedade diminui pela metade.
Golpes: BC lançou ontem serviço contra golpes e fraudes.
Defesa: com Trump focado na guerra contra as drogas, startups do setor são as novas queridinhas.
S&P: começando as ondas de previsões, o HSBC vê o índice chegando 7500 pontos.
Canadá: PIB cresce 2,6% ao ano.
Suíça: eleitores rejeitaram um novo imposto sobre heranças.
Shoppings: juros menores deve aumentar vendas.
ETFs: XP Asset anuncia 4 novos ETFs de criptomoedas e de renda fixa.
Ibovespa: primeira prévia tem entrada de Copasa e saída de CVC.
Raízen: avança para vender ativos na Argentina.
Nubank: negocia naming rights do futuro estádio do Inter Miami.
Americanas: conselho elege Sebastian Durchon como novo CFO.
BV: aguarda queda na inadimplência para retomar a expansão do crédito.
Assaí: família Muffato, dona de uma rede de supermercados no Paraná, monta posição de 10% em Assaí.
Shopify: caiu -5,87% depois de uma falha bem na Cyber Monday, com alguns lojistas não conseguindo processar transações.
Chilli Beans: contrata UBS BB para vender uma fatia de 30% da empresa.
DIVIDENDOS
Black Friday Tributária: a fuga dos dólares

Dezembro chegou e, junto com o panetone, vem a tradição brasileira da fuga de dólares: bilhões em lucros e dividendos arrumam a mala e deixam o país. Analistas falam em até US$ 10 bi saindo – o bastante para deixar o dólar elétrico e olhando feio para o BC.
Só que este ano o ritual veio em modo turbo: além da fuga sazonal, entra em cena a nova taxação de dividendos. Resultado: empresa e investidor acelerando remessas como se fosse realmente a última chance — e, de certo modo, é. A partir de 2026, lucros e dividendos enviados ao exterior passam a ser taxados, sem mínimo de isenção.
A sanção do PL 1.087 fez várias companhias do mercado de capitais pisarem no acelerador. Ninguém quer pagar pedágio tributário, então a ordem é: distribua tudo que puder enquanto ainda é 0800. Isso porque a nova regra de IR embute uma taxa de 10% para rendas acima de R$ 60 mil por mês, incluindo dividendos.
Pela nova regra, o pagamento pode até acontecer em 2026, mas a aprovação precisa estar assinada, carimbada e protocolada até 31 de dezembro de 2025. E o mercado entendeu o recado: várias empresas já estão antecipando dividendos futuros, turbinando JCP e fazendo as contas para não deixar nada escapar da janela de isenção.
Nos comunicados enviados à CVM, empresas como Azzas 2154, Marcopolo, Energisa, Lavvi, Kepler Weber, Cury, Itaúsa, WEG, Itaú, Vale, Axia, São Carlos… a lista vai longe. Virou um verdadeiro Carnaval fora de época dos dividendos.
Outra rota de fuga: transformar lucros em capital social via bonificação de ações. Vibra Energia, Energisa e Engie já aderiram ao truque, distribuindo ações em vez de dividendos e esse movimento deve ficar cada vez mais comum por causa das novas regras.
A Abrasca diz que as empresas brasileiras estão sentadas em cima de US$ 45 bilhões (R$ 241 bi) de lucros acumulados – e esse montante deve começar a escorrer rapidinho para o bolso dos acionistas. Como muita gente dessa lista mora lá fora, dezembro tem tudo pra virar uma ponte aérea de dinheiro, com capital decolando do Brasil como se fosse alta estação.
PS: Para empresas fechadas, a flexibilidade é maior pois elas têm até 2028 para pagar os dividendos aprovados em 2025.
BANCOS
Selic em alta: incomodando até os bancos

Você já deve ter ouvido que banco, no Brasil, ganha dinheiro com sol, chuva, eclipse ou apocalipse zumbi. E isso não está totalmente errado. Mas até para os bancos a Selic nas alturas deixa a sua marca: as tesourarias dos quatro maiores bancos de varejo listados viram o resultado encolher R$ 12,4 bilhões nos primeiros nove meses do ano.
Executivos nem precisam checar comitê de risco: o vilão é a Selic a 15%, maior nível desde a era do boleto no caixa. A lógica é simples: crédito e depósitos vivem numa DR eterna. Os empréstimos de varejo são pré-fixados, enquanto os depósitos sobem junto com a Selic. Resultado: quando a taxa dispara, o custo de captar sobe na hora, mas a receita dos empréstimos fica presa no passado.
O Santander é exemplo clássico. Sua linha de mercado ficou negativa em R$ 1,98 bilhão nos três primeiros trimestres de 2025, revertendo um belo ganho no ano anterior. O CEO, Mario Leão, praticamente disse: “poderia ter sido pior, ainda bem que tinha hedge”. Tipo usar capa de chuva na tempestade e ainda assim chegar com o tênis só meio molhado.
A sensibilidade dos bancos à Selic só aumentou nos últimos cinco anos, porque duas almofadas de segurança desapareceram no caminho:
Várias linhas de crédito agora têm teto de juros;
Acabou o famoso overhedge, aquele truque tributário em dólar que protegia patrimônio e turbinava lucro quando os juros subiam.
Desde então, os bancos correm para reconstruir proteções:
Santander: começou seu hedge novo em setembro de 2024, mas pediu paciência ao mercado. Efeito no balanço só em 2026.
Itaú: precisa se proteger da variação cambial porque tem capital aplicado em Chile e Colômbia. Só que o diferencial de juros entre esses países e o Brasil dobrou o custo dessa proteção no último ano.
Banco do Brasil: também carrega os resultados do banco argentino Patagonia na linha de tesouraria, mas sofre com o custo de captação. Com a poupança cada vez menos atrativa, o BB está mais dependente de depósitos a prazo, que são mais caros.
A verdade é que, num país acostumado a juros estilo montanha-russa, 15% ao ano derruba até a gestão de ativos e passivos mais disciplinada. E enquanto 2026 não chega, e ninguém sabe se a Selic vai descer de escada ou de elevador, os bancos seguem no modo “ajeita daqui, protege dali”, tentando provar que rentabilidade não precisa ser refém do Copom.
DECIFRANDO O CONDADO

Dovish / Hawkish
No jargão dos bancos centrais, hawkish e dovish são duas características de condução da política monetária.
Um banqueiro hawkish é o falcão: vigilante, desconfiado e sempre pronto para subir os juros. Enxerga riscos inflacionários em cada esquina e prefere agir preventivamente, mesmo que isso signifique desacelerar um pouco a economia no curto prazo
Já o dovish é a pomba da paz monetária: prefere juros mais baixos, estímulo econômico e uma abordagem mais paciente contra a inflação. Tende a acreditar que a economia precisa de espaço para respirar, e que nem toda alta de preços é motivo para puxar o freio de mão
CRIPTO
OranjeBTC: espremido com o bitcoin

O bitcoin pode até ser digital, mas a dor de quem comprou ações da OranjeBTC é bem real. Desde o seu IPO reverso, a criptoação derreteu 60%, indo na contramão do Ibovespa, que seguiu batendo recordes como se não houvesse amanhã.
A OranjeBTC estreou na bolsa em modo superstar: investidores fortes, 3.720 BTC (~R$ 1,7 bi) e o plano de virar a Strategy tropical. A ideia era usar o capital aberto para ampliar o estoque de cripto com novas ações e alavancagem barata. Funcionou… até o mercado acordar de ressaca.
Na teoria, a matemática fecha: ação acima do valor da tesouraria permite emitir papéis, comprar mais BTC e seguir o ciclo. Mas quando a ação despenca, vira aperto. Com o valor de mercado abaixo do valor dos próprios bitcoins, a tesouraria teve de entrar recomprando ações para segurar a cotação.
Zoom in: o timing também não ajudou. O bitcoin recuou cerca de 30% no mesmo período, e a volatilidade fez o modelo de “tesouraria cripto” parecer uma montanha-russa sem cinto de segurança.
Zoom out: lá fora, empresas como a Strategy e a japonesa Metaplanet também têm enfrentado dificuldades pra sustentar o prêmio sobre suas reservas. Hoje a MicroStrategy já vale US$10 bilhões a menos que a quantidade de BTC que possui na carteira.
Por aqui, a tese ainda patina: a liquidez é baixa, poucos analistas cobrem o papel e o investidor tradicional ainda torce o nariz pra empresas que valem mais pelo código do blockchain do que pelo fluxo de caixa. O Itaú BBA, único grande banco a acompanhar a OranjeBTC, preferiu não definir preço-alvo nem recomendação.
No fim das contas, a OranjeBTC precisa convencer o mercado de que sua tese vale mais do que um dia de alta dos criptoativos.
PS: entrevista com o CEO Guilherme Gomes e o Conselheiro Fernando Ulrich
STATS DO DIA
R$ 6,35 bilhões
É o tamanho do déficit das empresas estatais apenas entre janeiro e outubro deste ano. O resultado se aproxima do pior ano, que foi ano passado, com R$ 6,73 bilhões.

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