💰 A Republica das Dívidas

+ fusão de Marfrig e BRF + rebaixamento do rating americano

Bom dia Droppers.

Pensei no chuveiro: que estar endividado é como viver com liberdade condicional financeira. Você está solto, mas não está livre.

No Drop de hoje, em 5 min e direto ao ponto:

• Portfólios: Warren Buffett, Bill Ackman e Michael Burry
• Brasil: a república federativa das dívidas
Fusão Frigo: nasce um monstro das proteínas
• EUA: a trilogia do rebaixamento

MoneyDropped by Igor Chede Collaço, Renan Hamann e Pedro Clivati

GIRO PELO MERCADO

Por aqui, o Ibovespa cravou uma nova máxima, fechando em 139.636, embalado por declarações do Gabriel Galípolo (presidente do BC), que deu a entender que a Selic pode ter chegado ao topo desse ciclo. Além disso, depois que a Moody's rebaixou o rating dos EUA para Aa+ com perspectiva estável, vindo de AAA com perspectiva negativa, os portfólios globais sofreram uma rotação que favoreceu os emergentes.

Lá fora, quando os EUA sofreram o primeiro downgrade de seu rating, em agosto de 2011, os mercados responderam com as maiores quedas desde a crise de 2008. Mas ontem, no primeiro pregão após o downgrade, as ações até abriram em queda, mas recuperaram ao longo do dia depois dos investidores decidirem fazer o buy the dip. Mesmo assim, o destaque ficou com o ouro, com os investidores também buscando a segurança, enquanto o VIX, índice do medo, subiu.

VISUALS

Buffett, Ackman e Burry: pilotando sem GPS

Warren Buffett, Bill Ackman e Michael Burry são responsáveis por definir o destino de +US$ 1 trilhão de ativos de terceiros. Logo, quando eles decidem apontar para direções completamente opostas uma da outra, nós paramos para aprender.

Começando pelo bom velhinho… No seu último ano como CEO da Berkshire Hathaway, Buffett deu um passo atrás. Depois de anos apostando em bancos, vendeu todas as ações do Citigroup e do Nubank, e reduziu bastante a fatia no Bank of America e na Capital One.

Buffett também segurou a mão em novas aquisições — mesmo com uma reserva de caixa de mais de US$ 350 bi. Mas não ficou totalmente parado, pois reforçou posições em empresas mais “pé no chão” — como a Constellation Brands (Corona, Modelo) – e manteve firme sua maior aposta: Apple, que continua sendo o coração do portfólio.

Enquanto Buffett freava, Bill Ackman acelerou. Comprou 30,3 milhões de ações da Uber, entrando antes do anúncio de novos produtos e apostando em uma nova fase de crescimento da empresa. No Google, ele reduziu as ações classe C (sem direito a voto) e aumentou as classe A (com direito a voto).

  • Aumentou posição em: Hertz: (17,98%), Brookfield (17,52%) e Alphabet (GOOGL) (11,33%);

  • Reduziu posição em: Hilton (-44,84%), Alphabet (GOOG) (-16,21%) e

    Chipotle (-12,62%).

  • Zerou a posição em Nike,

Michael Burry foi na direção oposta e basicamente desmontou tudo – acreditando que o mercado está vivendo mais uma onda de otimismo exagerado, especialmente com tech e IA. Por isso, a Scion Asset Management vendeu quase todas as posições e se posicionou de forma altamente defensiva:

  • Zerou sua participação em: Alibaba, Baidu, JD, Bruker, HCA Healthcare;

  • Dobrou sua posição em Estée Lauder (única ação mantida na carteira).

No fim das contas, esses três movimentos mostram leituras bem diferentes de um mesmo cenário: juros altos, tech em alta, tensões com a China e um mundo que ainda não decidiu se acelera ou capota. Buffett escolheu esperar. Ackman, crescer. Burry, se proteger. E você, vai de carona com quem?

DÍVIDAS

Brasil: a República Federativa das Dívidas

Imagine um país inteiro com mais de 75 milhões de pessoas em que todos têm o nome sujo na praça. Pois se os inadimplentes brasileiros se reunissem em uma só nação, teriam a população maior que Itália, Portugal, França…

Um recorde infeliz: essa é a primeira vez que o número de brasileiros endividados passou a casa dos 70 milhões. Isso significa que quase metade da população adulta do país está com contas penduradas.

Se fosse um campeonato de dívidas, o Amapá seria o líder isolado: 61,8% dos adultos estão inadimplentes por lá. O pódio é completado por: Distrito Federal (60,1%) e Rio de Janeiro (55,6%). Já do lado mais contido nas dívidas temos Santa Catarina (36,5%), Piauí (37%), Espírito Santo (41,5%).

Segundo o SPC Brasil e a CNDL, são 42% dos adultos. Já o mapa da inadimplência do Serasa aponta para 75,7 milhões — ou 46,6% dos brasileiros com dívidas em aberto. Em qualquer lente a análise é ruim. O problema das dívidas é democrático, mas pesa mais no meio da vida, como mostra o ranking:

  1. De 41 a 60 anos: 35,1% dos endividados.

  2. De 26 a 40 anos: 34%.

  3. +60 anos: 19,2%

  4. De 18 a 25 anos: 11,7%.

O valor médio das dívidas? R$ 1.588 — quase um salário mínimo. No total, são R$ 438 bilhões em dívidas abertas, um salto de 13% na comparação com março de 2024.

E de onde vem tanta dívida?

  • Cartões de crédito e bancos: 28,5%

  • Contas básicas (água, luz, gás): 20,6%

  • Serviços diversos (streaming, telefonia, etc): 19,1%

  • Financeiras: 11,2%

O cartão de crédito virou extensão do salário, sendo usado não como ferramenta de planejamento, e sim como a salvação para pagar o mercado — no melhor estilo compre agora e se vire depois. Hoje são R$ 4 trilhões em crédito pessoal espalhados pelo país com 14 milhões de brasileiros com o selo “endividados de risco” pelo Banco Central.

O cenário de juros não poderia ser pior, com a Selic na sua máxima dos últimos 20 anos e a inflação em 5,53% no ano. Nesse primeiro trimestre, foram R$ 133 bilhões em cheque especial liberados — com juros médios de 134% ao ano!

Por enquanto, seguimos nesse ciclo vicioso: mais crédito, mais dívida, menos consumo, mais problema. É como tentar encher um balde furado — quanto mais entra, mais vaza, e a conta (literalmente) não fecha.

MACRO/AÇÕES
  • Turquia: anunciou a descoberta de 75 milhões de metros cúbicos de gás, o que daria uma estimativa de US$ 30 bilhões.

  • PPI Americano: a inflação do produtor americano caiu para 2,4% no ano, tendo a maior queda em 5 anos.

  • Vendas varejo: dos EUA aumentaram apenas 0,1% em abril, bem abaixo do aumento de 1,7% em março.

  • Desemprego: sobe em 12 estados brasileiros no 1º trimestre de 2025, segundo IBGE.

  • Argentina: inflação de abril fica em 2,8%, caindo 47,3% em 12 meses.

  • IBC-Br: prévia do PIB sobe mais que o esperado para março.

  • Emergentes: JP Morgan se junta ao BofA e muda perspectiva para compra em ações de países emergentes.

  • Reddit: caiu -4,63% depois que analistas do Wells Fargo rebaixaram a ação, acreditando que a empresa vai perder tráfego com o Google AI.

FUSÃO

Fusão Frigo: nasce um monstro das proteínas

Imagina misturar carne bovina da Marfrig com as aves da BRF, bater tudo no multiprocessador das sinergias e servir como uma potência global de proteínas? Esse shake está prestes a nascer da fusão das duas gigantes da proteína animal: BRF + Marfrig = MBRF.

Juntas, elas somam uma receita de R$ 152 bilhões e presença em 117 países. Mas antes de botar a carne no fogo, a operação precisa passar por duas etapas:

  • Aprovação dos acionistas nas assembleias (marcadas para 18 de junho);

  • O crivo dos reguladores.

Criar a terceira maior potência global de proteínas - atrás apenas da JBS e Tyson - exige algumas concessões. Neste caso, Marcos Molina (o fundador da Marfrig e controlador de 72% das ações) precisou largar o osso e abrir mão do controle da empresa - mas continuará como maior acionista da nova MBRF com 41%, seguido pela Salic (o fundo soberano da Arábia Saudita), com 10%, e a Previ que aparece com 5,1%.

O “kg” da união

Para cada ação da BRF, os acionistas receberão 0,8521 em ações da Marfrig. E, como brinde de casamento, vem um presentão em forma de dividendos: R$ 2,5 bilhões pagos pela Marfrig e R$ 3,2 bilhões pela BRF.

Segundo muitos analistas, o acordo favorece demais a Marfrig, que é a mais endividada. A empresa chegou a subir 21% no dia após o anúncio e chegou aos R$ 17,7 bilhões na Bolsa – metade da BRF, com R$ 34,6 bilhões.

Molina já vinha cozinhando essa fusão há tempos e comprando posições na BRF. Agora ele diz que é arregaçar as mangas para “cortar custos, juntar fornecedores, unificar logística, vender mais coisa junta e enxugar a operação”. Os números são promissores:

  • EBITDA: R$ 805 milhões a mais por ano;

  • Bônus tributário: R$ 3 bilhões

  • Alavancagem: 2,9x EBITDA.

  • Valor de mercado combinado: R$ 50 bilhões

Após o “sim” oficial, o plano é levar a MBRF pra NYSE, mudando até a sede para poder acessar mais capital e ter um re-rating das suas ações — algo que a JBS já fez agora se encontra na reta final para ser listada lá fora.

P.S: A proposta não agradou os acionistas minoritários da BRF, que acharam que os termos foram desfavoráveis.

RATING

EUA: a trilogia do rebaixamento

Lá se vai o último selo de perfeição do crédito americano! A agência Moody’s, que até então resistia bravamente, decidiu rebaixar a nota de crédito soberana dos Estados Unidos do tão cobiçado AAA para o Aa1 — um degrau abaixo.

Esse rebaixamento da Moody’s completa a trilogia do downgrade americano. A Standard & Poor’s foi a primeira a puxar o tapete em 2011. Mais de uma década depois, em 2023, foi a vez da Fitch.

O motivo é o mesmo nas três agências: muita dívida, juros nas alturas e pouca esperança de que o governo corte gastos de verdade.

Mas afinal... o que é esse tal de triple A?

Pensa na nota de crédito como o "score" de um país. Quanto mais alta, mais confiança os investidores têm de que vão receber de volta o dinheiro emprestado – o AAA é tipo o 1000 no Serasa.

A Moody’s olhou pro rombo fiscal dos EUA — déficit acima de US$ 1 tri só desde outubro, gastos em alta e um Congresso que corta no PowerPoint — e resolveu rebaixar a nota. E tem mais: se os cortes de impostos de 2017 continuarem (e a Moody’s acha que sim), o buraco pode crescer mais US$ 4 trilhões na próxima década. Isso pode elevar a dívida federal, que representa 98% do PIB, a 134% até 2035.

Com o rebaixamento, o clube do AAA está cada vez mais exclusivo. Até 2008, mais de 15 países faziam parte; hoje, somente 11. São Canadá, Austrália e Cingapura e os europeus Alemanha, Suíça, Holanda, Dinamarca, Suécia, Suíça, Noruega e Luxemburgo.

Apesar de tudo, as agências ainda mantêm os EUA com a segunda melhor nota possível, e o Tesouro americano continua sendo considerado ativo de baixo risco. Mas o movimento da Moody’s acende um alerta: o “excepcionalismo americano” está sendo testado.

P.S: Uma das relevâncias das agências de risco é que, muitos fundos institucionais só podem investir em ativos com nota mínima de “investment grade” de BBB pra cima.

P.S.2: As notas do Brasil estão assim: BB (Fitch e Standard & Poor’s) e Ba1 (Moody's).

STATS DO DIA

22 milhões

É o número de lares americanos que possuem patrimônio líquido acima de US$ 1 milhão. Isso representa 1 em cada 6 famílias.

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