
Bom dia Droppers.
Pensei no chuveiro: que no Brasil, quando o assunto é transporte aéreo até uma fusão de companhias de aviação podem sofrer com excesso de bagagem: dívidas, regulações e egos.
No Drop de hoje, em 5 min e direto ao ponto:
• Azul e Gol: casamento cancelado
• Wall Street 2.0: a IA por trás dos terminais
• Ambipar: o cheque especial de 11 dígitos
• AySA: Sabesp e Aegea de olho nas águas hermanas

GIRO PELO MERCADO

Por aqui, o Ibovespa teria atingido uma nova máxima histórica de fechamento, se não fosse a Petrobras freando o índice. A empresa caiu, acompanhando a queda de 3% no preço do petróleo, motivada pela expectativa de novos aumentos na produção da OPEP+. O otimismo que levou 63 das 83 empresas do Ibovespa a subirem ontem foi motivado também por uma menor expectativa da inflação, apontada pelo boletim Focus.
Lá fora, essa semana vai ser bem movimentada com a possível paralisação do governo e também com os dados do Payroll, o mercado de trabalho americano. Ontem os índices subiram, com as empresas de IA recuperando um pouco as perdas da semana passada. O ouro bateu um novo recorde, quebrando a barreira dos US$ 3.800 a onça. Amanhã vamos ter divulgação da Nike.
VISUAL
Cancelado: o casamento que não decolou

Teve flerte e planos para o futuro, com o mercado shippando e esperando o “sim”. Mas depois de meses veio a realidade: Gol e Azul não vão subir no altar. As conversas sobre fusão foram encerradas e a dupla não vai nem fazer codeshare – aquele esquema em que uma vendia passagens do voo da outra.
Na teoria, a união fazia sentido e a expectativa era de sinergias, cortes de custos e balanços mais equilibrados. Na prática, cada uma voa em ritmo próprio: a Gol saiu do Chapter 11 nos EUA para levantar caixa e reativar aviões parados, enquanto a Azul entrou no processo para devolver aeronaves e cortar 35% da frota.
Com uma querendo expandir e a outra encolher, ficou difícil alinhar planos. Agora, com o cancelamento da festa, cada uma segue voando solo e enfrentando suas próprias turbulências.
Mesmo assim, a Abra (controladora da Gol) ainda aposta que a consolidação é inevitável na aviação latino-americana – afinal, frota maior significa mais poder de barganha com arrendadores e fabricantes.
De olho na Bolsa
🟦 A Azul entrou com pedido do Chapter 11 carregando uma dívida acima de R$ 30 bilhões e uma alavancagem em 5,2x. O plano é sair dessa fase reduzindo drasticamente sua alavancagem para 3x.
🟧 A Gol marcou a sua saída do Chapter 11 fazendo uma diluição acionária de 99,8%, ao emitir 1,2 trilhão de ações, e mesmo assim continuou com uma alavancagem acima de 5x.
O “não” à fusão evita um duopólio e mantém a competição nos céus brasileiros. Para reguladores, consumidores e parte dos investidores, foi um pouso suave. E fica a lição: juntar culturas, rotas e balanços pode ser mais difícil do que decolar no horário.
MACRO/AÇÕES
Cannabis: as empresas do setor subiram (Tilray + 60,87%, Canopy Growth +17,16%), depois de Trump repostar um vídeo promovendo os potenciais benefícios para a saúde de idosos.
Inadimplência: chega no maior patamar dos últimos 12 anos.
Emergentes: cenário de dólar mais fraco impulsiona as bolsas emergentes.
FED: ex-presidentes do Fed assinam documento recomendando a permanência de Lisa Cook.
Braskem: agências de risco cortam as notas de crédito para níveis de risco de calote.
FIIs: TRXF11 faz oferta de US$ 3 bilhões ancorada em troca de imóveis por cota.
Stellantis: CFO deixa o cargo, com um brasileiro assumindo o posto.
Electronic Arts (EA): é comprada por US$ 55 bilhões, no maior leveraged buyout da história.
Starbucks: vai fechar 1% das suas lojas na América do Norte.
Robinhood: bateu máxima histórica depois de divulgar que 4 bilhões de eventos foram negociados, sendo 2 bilhões apenas no 3T’25.
Vale: BofA tem perspectiva positiva e eleva o preço-alvo para R$ 69.
Etsy: subiu 16% após o anúncio de parceria com o ChatGPT.
TECNOLOGIA
Wall Street 2.0: a IA por trás dos terminais

O investidor de varejo ganhou um novo “conselheiro financeiro”: o chatbot. Três anos depois do lançamento do ChatGPT, hoje pelo menos 1 em cada 10 investidores pedem dicas de ações para a IA. O efeito colateral: um boom no mercado de robo-advisors, que deve saltar de US$ 61 bilhões para quase US$ 471 bilhões até 2029.
Hoje, qualquer um pode pedir pra IA montar carteira, rastrear empresas e acessar análises antes exclusivas de banqueiros engravatados e gestores bilionários. Mas nem todo milagre é perfeito: até os fãs admitem que tratar chatbot como oráculo ainda é receita de alto risco.
Jeremy Leung, ex-analista do UBS, admite: trocou o terminal da Bloomberg por prompts no ChatGPT. “Funciona bem, mas não espere que ele fure paywall”, diz. E ele não está só: pesquisas apontam que quase metade dos investidores usaria IA para opinar na carteira – e 13% já usam. Mas é preciso saber que há dois tipos de IA nesse mercado:
Chatbots genéricos: como o ChatGPT ou o Gemini ainda podem tropeçar feio em números ou previsões. Por disputarem dados “no mar aberto”, podem sofrer com as coletas – principalmente em tempo real. O próprio ChatGPT avisa: não substitui consultor financeiro – ainda.
Chatbots especialistas: por serem alimentados somente com dados do mercado financeiro e com acesso em tempo real, possuem um nível de confiança mais alto do que as soluções mais populares.
No fim das contas, o que a febre do “investidor com IA” mostra é que o mercado está ficando mais acessível e democrático. A IA já até passou nas três provas do CFA, que é a certificação mais cobiçada e difícil das finanças. Você já pegou conselho com alguma delas?
PS: HSBC e IBM criaram um algoritmo quântico para prever o comportamento de títulos no mercado europeu – e o teste impressionou: +34% na precisão das previsões.
No Brasil já dá pra usar chatbot com dados em tempo real do mercado financeiro: o WarrenAI. E ele não está sozinho – conheça essa e outras soluções de IA para investir com o InvestingPro.
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DÍVIDAS
Ambipar: o cheque especial de 11 dígitos

A Ambipar pegou o mercado de surpresa com um pedido de tutela cautelar – a medida emergencial que geralmente antecipa uma recuperação judicial. O objetivo: evitar um rombo de ~R$ 10 bi, com ajuda da Justiça do Rio.
O gatilho veio do Deutsche Bank, que pediu garantias extras de um empréstimo de R$ 35 mi. E como isso vira um rombo de R$ 10 bi? Pela cláusula de vencimento cruzado: se uma dívida falha, todas as outras batem na porta. Resultado: risco de efeito dominó e insolvência imediata.
O juiz que cuida do caso deu um fôlego de 30 dias (renováveis por mais 30) e nomeou 4 administradores judiciais para acompanhar a novela, que ainda deve ganhar alguns capítulos de intrigas, defesas e ataques entre instituições.
A empresa acusa o Deutsche Bank de exigir garantias acima do razoável – só nos últimos dias, mais de R$ 260 mi já foram drenados do caixa. O Santander também entrou na fila, pedindo US$ 119 mi, enquanto os títulos de dívidas da empresa sangram lá fora.
Pra piorar, a Ambipar lançou R$ 3 bi em debêntures para recomprar títulos e, dias antes, teve que lidar com a renúncia do CFO João Piran de Arruda.
A Ambipar segue como a empresa que salva o planeta de desastres ambientais, mas agora precisa se salvar de um desastre financeiro. A ação despencou quase 60% com a notícia da tutela, mas se recuperou nos últimos dois pregões e fechou ontem em +21,47%, voltando ao patamar pré-anúncio.
P.S: depois do pedido de tutela cautelar, a Fitch e a S&P, agências de ratings, cortaram a nota de crédito da empresa.
DECIFRANDO O CONDADO

Vencimento cruzado
No mundo das dívidas, existe uma cláusula chamada vencimento cruzado que é uma espécie de “efeito dominó” financeiro.
Funciona assim: se a empresa dá calote em uma dívida, automaticamente as outras também podem ser cobradas de uma vez só.
É como esquecer de pagar a conta do cartão de crédito e, de repente, o banco decidir que já está na hora de você quitar o financiamento do carro e o empréstimo do apartamento também.
Para os credores é um jeito de se proteger. Para a empresa, um baita pesadelo de caixa.
SANEAMENTO
AySA: privatização com sotaque portenho

Ali do outro lado da fronteira rolam as negociações para a maior privatização de saneamento do momento. Quem está à venda é a AySA (Agua y Saneamientos Argentinos) e quem está pronto para responder “eu” na hora do “quem dá mais?” são as brasileiras Sabesp e Aegea – que disputam espaço com gigantes internacionais.
Se o negócio sair, será a primeira aventura internacional das brasileiras da torneira, acostumadas a brigar só por concessões locais. E não é por pouco: a AySA é o maior sistema urbano de saneamento da América Latina, atendendo 15 milhões de pessoas em Buenos Aires e região.
O impacto seria gigante:
Sabesp:, a empresa já abastece 25 milhões de pessoas em SP e aumentaria sua base de clientes em quase 60%.
Aegea: a líder do segmento já conta com 33 milhões de usuários, tendo um potencial acréscimo seria de 45%.
Um breve histórico da AySA
Sequência de prejuízos: a estatal argentina – símbolo da reversão das privatizações no governo Kirchner – passou 17 anos no vermelho.
O retorno: começou a mostrar vida em 2024 e depois de bilhões injetados, registrou seu 1º lucro e um EBITDA tímido de US$ 48 mi.
O futuro: bancos enxergam potencial de até US$ 250 mi/ano com ajustes – cerca de 10% do que Sabesp e Aegea já geram.
A privatização: o decreto presidencial de Milei autoriza vender até 90% da companhia, com leilão previsto para março ou abril de 2026.
A ideia do governo argentino é garantir um operador estratégico com pelo menos 51% das ações e abrir o restante na Bolsa.
De São Paulo a Buenos Aires, a disputa mostra que o setor de saneamento brasileiro está deixando de ser caseiro para jogar no tabuleiro latino-americano.
STATS DO DIA
US$ 338 trilhões
é o novo recorde do montante da dívida global.

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