Pensei no chuveiro: que muita gente entrou no mercado de day-trade querendo ser o próximo Warren Buffett… e saiu especialista em stop loss.

Por aqui, os sinais de que China e EUA vão dar um tempo na trocação de golpes na guerra comercial deixou o Ibovespa de bom humor. Quem puxou a fila foi a Vale, com alta de 1,28% – e já acumulando quase +20% em dois meses. De quebra, o Boletim Focus trouxe um agrado extra ao mercado, revisando para baixo as projeções de inflação. Já na calada da noite, a Ambipar fez os rumores ficarem reais e, de fato, pediu RJ – com dívidas na casa dos R$11 bilhões.

Lá fora, o ânimo veio das declarações de Kevin Hassett, conselheiro da Casa Branca, que disse esperar o fim do shutdown ainda nesta semana. E a semana é recheada de balanços corporativos e da divulgação do CPI, o índice de inflação ao consumidor nos EUA. O detalhe é que esse será um dos poucos dados oficiais publicados pelo governo durante o shutdown, que já entra na sua terceira semana.

Se a Nvidia tá surfando a maior onda do hype da IA, quem aproveita um pedaço da prancha pra ir junto é a TSMC. E a maior fabricante de chips do mundo – que produz, inclusive, para a Nvidia – fechou o trimestre com lucro 39% maior do que o do ano passado e bateu seu próprio recorde.

O CEO, C.C. Wei, comemorou dizendo que “a maré da IA só cresce” – e com ela, a confiança da TSMC no futuro. A empresa elevou sua projeção de crescimento de receita para algo em torno de 35% neste ano e planeja investir mais de US$ 40 bilhões em expansão e modernização.

Os números do trimestre:

Mesmo com o burburinho sobre novas tarifas nos EUA, a TSMC segue confiante e bem posicionada, apostando até mesmo em fábricas em solo americano para se proteger. E o mercado está comprando essa história: as ações da $TSM ( ▼ 1.07% ) já acumulam alta de mais de 60% nos últimos 12 meses e de 56% apenas neste ano.

Compra: 15 | Neutro: 2 | Venda: 0

Preço-alvo médio: US$ 335,40 | Preço atual: US$ 299,32

Durante a pandemia, enquanto uns faziam pão de fermentação natural, outros tentavam fermentar o patrimônio na bolsa. O resultado? Um prejuízo coletivo de R$ 9,9 bilhões.

Um estudo da FGV revelou que quase 1 milhão de brasileiros entrou na febre do day trade (aquela operação em que você compra e vende o mesmo ativo no mesmo dia, achando que vai sair rico antes do almoço… só que não). Os mais ricos perderam mais em valores absolutos, mas os mais pobres sentiram o golpe com mais força.

O “day trade” virou uma febre e teve operação em todos os estados – com idade média de 34 anos, mas com participantes de 18 a 67. A mistura de ganhos rápidos + cursos milagrosos + plataformas acessíveis transformou o day trade em um fenômeno tipo BBB – só que, nesse caso, quase todo mundo foi eliminado.

Os autores do estudo, Bruno Giovannetti e Fernando Chague, apontam que a lógica é simples: pessoas físicas competem contra máquinas, algoritmos e instituições que jogam em outro campeonato. É como entrar num ringue com o Mike Tyson achando que o vídeo do YouTube te ensinou a lutar.

Eles ainda sugerem que, depois da pandemia, parte dessa galera migrou para o mundo das bets – as apostas esportivas online. Afinal, o sonho continua o mesmo: ganhar dinheiro rápido sem sair de casa. Só muda o site e o jeito de perder.

O rumor se confirmou: a Ambipar apertou o alarme e pediu recuperação judicial, com dívidas de R$ 10,7 bilhões. A maior parte da dívida vem dos bonds da empresa, que somam cerca de US$ 1 bilhão, mas há também R$ 3 bi em debêntures, R$ 2 bi com bancos e R$ 230 milhões com fornecedores.

Entre os credores:

O sinal de alerta piscou em agosto, quando a Deloitte apontou que, dos R$ 4,7 bilhões reportados em caixa, R$ 2 bilhões estavam num FIDC. Só que o dinheiro desse fundo estava aplicado em CDBs do Banco Master, e assim, inacessível pela crise que o Banco vem passando.

E, como em toda boa história de crise de confiança, os bancos começaram a trocar figurinhas entre si… e perceberam que ninguém tinha o dinheiro da Ambipar na conta.

Em 30 dias, as ações da Ambipar despencaram 98%. A empresa que já chegou a valer R$ 47 bilhões, agora vale menos de R$ 1 bilhão.

Hoje, o papel negocia a R$ 0,58… uma fração do que um dia já foi. Um lembrete claro de que crescimento rápido sem transparência é um incêndio esperando uma faísca.

PS: em seu pedido de RJ, a empresa coloca seu atual fluxo de caixa sob sigilo.

A Nestlé resolveu passar um café bem forte e repensar tudo. A gigante suíça vai cortar 16 mil empregos nos próximos dois anos (12 mil de gestão e 4 mil na manufatura) e ainda revisar o portfólio de mais de 2 mil marcas.

O programa, batizado de Fuel for Growth (“Combustível para o Crescimento”), quer turbinar a produtividade com automação, serviços compartilhados e uma dose generosa de corte de custos. Junto com a faxina interna, a Nestlé divulgou seus resultados do terceiro trimestre (ou seria o contrário?):

No fim das contas, a Nestlé, que vale 213 bilhões de francos suíços na bolsa, tenta mostrar que está disposta a derreter um pouco de gordura corporativa – tudo para continuar sendo a líder do mercado (e talvez merecer um Kit Kat de recompensa depois).

O mercado aprovou: as ações chegaram a subir 9,2% no dia após a divulgação (a maior valorização diária desde 2008). Afinal, quando o assunto é eficiência, Wall Street adora um plano de dieta corporativa. Mesmo assim, no acumulado de 12 meses, o papel ainda amarga uma queda de -2,79%.

PS: a Nestlé vem distribuindo bons dividendos já faz 34 anos consecutivos* – sendo que elevou o valor nos últimos 29.

52%

É a valorização da Apple desde a sua mínima em abril. A empresa teve sua primeira máxima no ano ontem.

Via Igor Chede Collaço